O transporte aeromédico, também conhecido como UTI aérea, é o transporte de pacientes em aeronaves (aviões ou helicópteros) preparadas para missões de remoção aérea, atendimento e transferência entre hospitais e unidades médicas.
Transportar pacientes em aviões é um exercício operacional bastante intricado e complexo, envolvendo uma vasta gama de profissionais do ar (pilotos, co-pilotos, controladores, etc.) e da saúde (médicos, paramédicos, aeromédicos, etc.). Todos os envolvidos no transporte de doentes e feridos por via aérea são profissionais muito especializados.
Como o transporte aeromédico é comumente utilizado em situações mais críticas, muitas dúvidas podem surgir a respeito de como contratar o serviço e a dúvida mais comum quando o assunto é UTI aérea: preço.
Quanto custa uma UTI aérea?
O custo de uma UTI aérea (ou transporte aeromédico) pode variar bastante, especialmente considerando a região de atuação e as especificidades das missões.
Aeronaves com preparação mais simples e equipe menor, destinadas a missões menos complexas como remoção com avião UTI, costumam ter o preço ao redor de R$20,00 a R$150,00 o KM voado – mais taxas de operação e eventuais acréscimos devidos a disponibilidade da aeronave e nível de urgência.
Já aeronaves mais equipadas, com equipes de pilotos e aeromédicos maiores, costumam custar mais caro. O mesmo vale para missões específicas ou com grau de dificuldade mais elevado, fazendo o preço subir devido às configurações necessárias da aeronave e também à especialização da equipe.
Portanto, é seguro dizer que o custo médio para o transporte aeromédico para quem precisa contratar uma UTI aérea pode chegar a R$45.000,00 para um percurso de cerca de 300 quilômetros.
Qual é a UTI aérea certa para cada paciente?
As aeronaves utilizadas em remoções aeromédicas podem variar bastante. Tudo depende de uma série de fatores importantes que precisam ser considerados no momento da escolha de uma UTI aérea adequada. Esses fatores são:
- Quadro clínico do paciente: dependendo da gravidade apresentada pelo paciente precisando do transporte aeromédico, é preciso que a aeronave esteja adequadamente equipada com os equipamentos necessários para o transporte e atendimento. A equipe também precisa estar capacitada para atender as necessidades específicas do paciente transportado na aeronave.
- Infraestrutura do aeroporto/local de origem: a infraestrutura do local de origem, suas configurações de pista e acessibilidade também irão determinar a escolha da aeronave correta.
- Infraestrutura do aeroporto/ local de destino: assim como acontece na origem, os aeroportos, pistas ou locais de destino podem influenciar bastante na escolha da aeronave. Também irá interferir nisso questões logísticas como voos de volta e necessidade de hospedar a equipe.
- Distância percorrida: a distância percorrida também é um fator muito importante na hora de escolher uma UTI aérea. Além da autonomia da aeronave, também é preciso considerar se a cabine é pressurizada ou não — especialmente para voos muito longos.
Como deve-se imaginar, por se tratar de uma operação de alta complexidade, o transporte aeromédico exige uma extensa avaliação prévia. É a equipe prestadora do serviço, juntamente ao corpo médico, que melhor podem definir as opções de aeronave que podem ser consideradas na remoção aeromédica. Portanto, não fica a cargo do paciente a escolha da UTI aérea.
O que é preciso saber ao contratar uma empresa de transporte aeromédico?
A necessidade de se contratar um serviço de UTI aérea vem, muitas vezes, de uma condição de adversidade e até mesmo urgência. Ainda assim, é preciso ter alguns cuidados na hora de escolher a empresa prestadora do serviço de transporte aeromédico.
Abaixo, listamos os cuidados principais que você precisa ter para não colocar a vida do paciente ainda mais em risco.
Consultar se a UTI aérea é homologada pela ANAC
Antes de mais nada, quem contrata um serviço de UTI aérea precisa consultar o site da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para certificar-se de que a empresa é homologada para realizar transportes aeromédicos.
Esse é um procedimento bastante simples, já que a agência disponibiliza uma lista atualizada de empresas autorizadas a prestar o serviço de transporte aeromédico e podem disponibilizar UTIs aéreas e equipes especializadas para realizar o serviço.
Consultar a elegibilidade da empresa de serviços aeromédicos é muito importante, já que existem empresas que operam na ilegalidade e não são autorizadas a realizar o transporte de pacientes em aeronaves, especialmente por não possuírem frotas de UTIs aéreas devidamente adaptadas para o serviço.
Entender o serviço de UTI aérea que será contratado
Entender o escopo do serviço que você está prestes a contratar é fundamental, especialmente em situações como a de transporte aeromédico, onde sempre existe algum risco para o paciente devido aos diferentes tipos de transporte médico a que ele será submetido durante seu tratamento.
Basicamente, existem duas modalidades de prestadoras de serviços mais comuns. Existem outras variações, mas as configurações mais comuns de empresas de UTI aérea são:
Empresa fornecedora apenas da aeronave UTI
Algumas empresas contam apenas com as aeronaves, ou seja, apenas as UTIs aéreas. Esse tipo de empresa costuma prestar um serviço de transporte aeromédico em parceria com outras empresas, ou até mesmo planos de saúde que oferecem esse tipo de serviço. Assim, as equipes de pilotos, técnicos, mecânicos, etc. trabalham em parceria com as equipes fornecidas pelo hospital ou plano de saúde, que costuma fornecer a equipe médica, transporte terrestre e rede de atendimento.
Empresas que operam no sistema Bed-to-Bed
O sistema Bed-to-Bed (que, numa tradução livre do inglês significa “de uma cama a outra”) é o tipo de serviço onde apenas uma empresa é responsável por todos os trâmites e toda a jornada do paciente.
Tudo que acontece no pré-voo, desde o transporte terrestre, alocação de pilotos, aeronaves e equipe médica, até o pós-voo, com coordenação com as equipes em terra e trâmites burocráticos como entrada no hospital ou até mesmo entrada do paciente em outros países, fica a cargo da empresa.
A grande vantagem desse sistema, além da tranquilidade de não ter que cuidar sozinho de muitas equipes e demandas que esse tipo de serviço exige, é que uma equipe centralizada é capaz de realizar um transporte aeromédico muito mais seguro e eficiente para o paciente.
Quantos acompanhantes podem viajar numa UTI aéra
Esse dado é bastante importante saber com antecedência da empresa de transporte aeromédico contratada. O número de acompanhantes vai depender do tamanho da tripulação e da equipe médica necessária para realizar o transporte.
Geralmente, as remoções aeromédicas costumam acontecer em aeronaves executivas e helicópteros, o que significa que o número de pessoas que a aeronave pode transportar é reduzido. Isso pode ser ainda mais complicado por conta das adaptações que uma aeronave preparada para UTI aérea costuma receber, que acabam ocasionando a perca de assentos e da capacidade de carga devido ao peso adicional dos equipamentos.
Quais profissionais compõem uma equipe de transporte aeromédico?
Muitos profissionais podem compor a equipe que realiza o transporte aeromédico, especialmente se considerarmos todos os envolvidos em terra tanto em questões logísticas, como burocráticas e de manutenção.
No entanto, a equipe de uma UTI aérea é sempre formada por pilotos, co-pilotos, médicos e enfermeiros com formação específica na área aeromédica. Médicos que não são aeromédicos podem acompanhar equipes durante o transporte, mas é mandatório a presença de médicos e/ou enfermeiros com especialização nesse tipo de missão.
Assim, quando alguém disser que é aeromédico, não quer dizer apenas que ele trabalha com atendimentos médicos durante missões aéreas, mas que ele tem formação específica na área.
Requisitos para o transporte aeromédico: coordenação de Cabine
A Coordenação de Cabine (Crew Coordination) é um conjunto de princípios que visa garantir a total sintonia entre os elementos da tripulação durante uma remoção aeromédica ou qualquer emprego da UTI aérea.
Os princípios que permeiam a coordenação de cabine são:
- Garantir uma formação/atualização continua
- Colocar e retirar luvas com técnica asséptica
- Conhecer e ser capaz técnicas de limpeza e desinfecção
- Estar capacidade para fornecer informações básicas sobre a aeronave (saídas de emergência, áreas de circulação restrita)
- Conhecer os procedimentos de distribuição de peso/carga uniforme na aeronave
- Evitar manifestar-se em público acerca de erros a bordo
- Ter aptidão para manusear materiais de emergência como extintores, ELTS e outros
- Saber operar equipamentos de comunicação inerentes às aeronaves
- Executar embarque e desembarque de pacientes com os motores e rotores ligados
- Estar apto para diagnosticar e informar a gravidade e a evolução da patologia durante o transporte aéreo
- Manipular materiais esterilizados
- Manipular kits aeromédicos
- Conhecer, respeitar e acionar a função específica de cada membro da tribulação
- Realizar simulações periódicas de emergência aeromédica a bordo das aeronaves e também em solo
- Tratar incidentes críticos sempre em reuniões de briefing
- Utilizar a desmobilização do pacientes somente em último caso
Aeronaves mais utilizadas no transporte de pacientes
Praticamente todas as aeronaves podem ser adaptadas para o uso como UTI aérea. No entanto, existem limitações como peso, espaço e muitas outras que acaba tornando inviável disponibilizar todo e qualquer tipo de aeronave para o transporte aeromédico.
Assim, algumas aeronaves costumam se destacar no serviço e são empregadas mais frequentemente como ambulâncias aéreas. São elas:
Beechcraft King Air 90
Ficha técnica do Beechcraft King Air 90:
Autonomia: 5h00
Raio da ação: 2.446 KM
Teto operacional: 30.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 420 Km/h
Cabine pressurizada: não
Capacidade: 1 paciente, 2 acompanhantes e 4 tripulantes
Beechcraft King Air 200
Ficha técnica do Beechcraft King Air 90:
Autonomia: 6h00
Raio da ação: 3.334 KM
Teto operacional: 35.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 540 Km/h
Cabine pressurizada: sim
Capacidade: 1 paciente, 1 acompanhante e 4 tripulantes
Cessna 412C
Ficha técnica do Cessna 412C:
Autonomia: 3h00
Raio da ação: 1.750 KM
Teto operacional: 27.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 420 Km/h
Cabine pressurizada: sim
Capacidade: de 6 a 8 pessoas (dependendo da configuração)
Lear Jet 35A
Ficha técnica do Lear Jet 35A:
Autonomia: 5h00
Raio da ação: 3.400 KM
Teto operacional: 40.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 850 Km/h
Cabine pressurizada: sim
Capacidade: 1 paciente, 2 acompanhantes e 4 tripulantes
Pilatus PC-12
Ficha técnica do Pilatus PC-12:
Autonomia: 8h00
Raio da ação: 3.208 KM
Teto operacional: 30.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 500 Km/h
Cabine pressurizada: sim
Capacidade: de 9 a 11 pessoas (dependendo da configuração)
Piper Seneca III
Ficha técnica do Piper Seneca III:
Autonomia: 4h30
Raio da ação: 1.350 KM
Teto operacional: 10.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 300 Km/h
Cabine pressurizada: não
Capacidade: 2 pacientes e 4 tripulantes
Bell 222
Ficha técnica do Bell 222:
Autonomia: 2h40
Raio da ação: 604 KM
Teto operacional: 12.800 pés
Velocidade de cruzeiro: 260 Km/h
Cabine pressurizada: não
Capacidade: 1 paciente, 1 acompanhante e 4 tripulantes
Eurocopter EC 135
Ficha técnica do Eurocopter EC 135:
Autonomia: 2h20
Raio da ação: 635 KM
Teto operacional: 10.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 287 Km/h
Cabine pressurizada: não
Capacidade: 2 pacientes e 3 tripulantes
Sikorsky S76-C+
Ficha técnica do Sikorsky S76-C+:
Autonomia: —-
Raio da ação: 813 KM
Teto operacional: 18.000 pés
Velocidade de cruzeiro: 269 Km/h
Cabine pressurizada: não
Capacidade: 1 pacientes, 2 acompanhantes e 4 tripulantes
Outras UTIs aéreas comuns no Brasil
Citation Jet 2
Capacidade: 6 a 7 passageiros
Velocidade: 700 km/h
Autonomia: 2.800 KM
Citation Sovereign
Capacidade: 8 a 11 passageiros
Velocidade: 850 km/h
Autonomia: 5.000 KM
Phenom 100
Capacidade: 4 passageiros
Velocidade: 700 km/h
Autonomia: 2.116 KM
Gulfstream G200
Capacidade: 10 passageiros
Velocidade: 900 km/h
Autonomia: 5.500 KM
Phenom 300
Capacidade: 7 passageiros
Velocidade: 750 km/h
Autonomia: 3.300 KM
Citation Mustang
Capacidade: 4 passageiros
Velocidade: 630 km/h
Autonomia: 2.130 KM
Citation XLS
Capacidade: 8 passageiros
Velocidade: 800 km/h
Autonomia: 3.500 KM
Falcon 2000LX EASy
Capacidade: 10 a 12 passageiros
Velocidade: 880 km/h
Autonomia: 7.400 KM
Quais são os equipamentos médicos de uma UTI aérea?
Bom, falamos das modificações necessárias e como isso impacta a capacidade de carga, passageiros e até peso máximo de decolagem de uma aeronave. Mas, afinal, quais equipamentos médicos estão comummente presentes numa UTI aérea? Veja a lista:
- Assentos para acomodar acompanhantes
- Mala de Trauma
- Material para controle de hemorragias
- Material para tratamento de traumas
- Material para imobilização de fraturas
- Material para realizar entubação endotraqueal
- Macas especializadas para o transporte de pacientes com traumatismo na coluna cervical
- Desfibrilador
- Eletrocardiógrafo
- Marcapasso externo
- Oxímetro de pulso
- Aspirador fixo e também portátil
- Medidor de Peak Flow
- Tanque e equipamentos de oxigênio
- Sistema de oxigenioterapia
- Respirador fixo e portátil
- Calças anti-choque
- Talas de imobilização (infláveis)
- Bombas de infusão
- Maletas de medicação
História do transporte aeromédico
Os primeiros dados que remontam ao transporte aeromédico são de 1870, em Paris, no período da Guerra Franco-Prussiana. O transporte de feridos, então, era realizado em balões de ar quente para fora da cidade de Paris.
Como é de se imaginar, a história do transporte de doentes e feridos por meios aéreos se confunde com a história dos conflitos bélicos. Isso porque, até então, não havia a necessidade do transporte rápido e a áreas de difícil acesso por terra ou água.
Em 1906, em meio à Primeira Guerra Mundial, as remoções aeromédicas eram feitas em rudimentares monomotores adaptados no campo de batalha para realizar o trabalho de uma elementar UTI aérea.
Foi só na Segunda Guerra Mundial que unidades maiores de transporte de feridos surgiram, permitindo o surgimento de algo mais parecido com o que temos nas UTIs aéreas de hoje, com equipamentos médicos e a capacidade de transportar uma equipe médica além do piloto e do paciente.
O transporte aeromédico no Brasil
No Brasil, os primeiros registros de transporte aeromédico datam de 1950, no Pará. Essa modalidade surgiu com a criação do Serviço de Busca e Salvamento (SAR), cuja principal função era localizar aeronaves e embarcações desaparecidas ou à deriva, além do transporte de sobreviventes de acidentes aéreos e marítimos.
Em 1988, foi fundado o Grupo de Socorro de Emergência (GSE), que foi considerando por muitos anos um dos grupos de elite da busca, salvamento e transporte aeromédico no país, realizando mais de 1200 resgates/remoções em cerca de 7 anos.
Já em 1989, foi criado o Projeto Resgate, em São Paulo. O intuito era reduzir o índice de mortalidade durante o resgate de vítimas de acidente em vias públicas e estradas. O projeto foi tão efetivo que, até hoje, a população costuma se referir a ele como apenas “Resgate”.
Somente nos primeiros anos da década de 1990 começaram a surgir os serviços de transporte aeromédicos particulares, popularmente conhecidos no Brasil como UTIs aéreas.
Mas afinal, o transporte aeromédico (as UTIs aéreas) é seguro?
Sem sombra de dúvida. O transporte aeromédico e as operações de resgate aéreo são responsáveis por salvar milhares de vidas todos os anos. Com a difusão da aviação particular e executiva, a democratização do serviço também começou a fazer a diferença no atendimento médico de urgência e transporte de pacientes com agilidade e segurança.
Concluindo, o transporte aeromédico e as UTIs aéreas são extremamente seguras e eficazes. Não é a toa que o serviço vem sendo aperfeiçoado a mais de 100 anos.