A reciclagem de eletrônicos feita da maneira correta é essencial para lidar com o crescente problema dos resíduos eletrônicos e reduzir os impactos ambientais associados. Neste artigo, exploraremos a importância da reciclagem de eletrônicos, os desafios envolvidos e as tecnologias disponíveis para um gerenciamento adequado desses resíduos. 

Problema dos resíduos eletrônicos no mundo 

Antes de compreendermos a magnitude do problema causado pelo descarte inadequado de eletrônicos, é preciso compreender o que configura esse tipo de resíduo. 

O que são os resíduos eletrônicos? 

O que são os resíduos eletrônicos

Também conhecidos como lixos eletrônicos ou resíduos computacionais, os resíduos eletrônicos são todos os dispositivos eletroeletrônicos que apresentam algum tipo de dano parcial ou total e, com isso, não conseguem operar e funcionar de maneira plena. 

Por conta do nome técnico de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REE), é muito comum se confundir e pensar que esses dispositivos estão relacionados somente à informática, como computadores, celulares, tablets e acessórios associados. 

Mas, na verdade, qualquer tipo de aparelho ou utensílio alimentado pela energia elétrica e que tenha um tempo específico de vida útil pode ser incluído nessa lista, independente do seu tamanho e de suas formas de uso, conforme a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ou seja, são resíduos eletrônicos: pilhas e baterias, geladeiras, fogões, microondas, secadores de cabelo, ventiladores, liquidificadores, lâmpadas fluorescentes, máquinas de lavar, entre outros. 

Impactos ambientais e sanitários do descarte incorreto de eletrônicos 

Se realizado de maneira incorreta, o descarte de eletrônicos pode gerar graves impactos ambientais e sanitários. Isso porque os componentes desses materiais contêm metais pesados, como chumbo, cádmio, níquel, mercúrio e zinco, que, dependendo do local onde forem descartados, podem trazer consequências extremamente tóxicas para seres humanos, animais e a natureza no geral. 

Sem mencionar que o vazamento proveniente da mistura dessas substâncias químicas com o lixo comum tem altas chances de contaminar o solo e os lençóis freáticos, impactando diretamente a qualidade da água consumida. 

Estima-se que os equipamentos eletrônicos descartados tenham, em média, 20 tipos de componentes altamente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Sendo assim, além de elevar os riscos de um grande desequilíbrio ambiental, o manuseio inadequado desses resíduos também representa um perigo para as pessoas próximas ou envolvidas diretamente na sua manipulação, como aquelas que moram perto de aterros sanitários ou os trabalhadores responsáveis pela separação de materiais para reciclagem. Alguns problemas de saúde que podem ser ocasionados nesse contexto são: 

  • Intoxicação temporária por metais pesados; 
  • Alterações no sistema reprodutor e desenvolvimento infantil; 
  • Distúrbios endócrinos, nervosos e renais; 
  • Problemas respiratórios, como asma, rinite e bronquite; 
  • Câncer de pele, pulmão, rim e bexiga; 
  • Problemas dermatológicos, como alergias, irritações e erupções cutâneas, entre outros. 

Estatísticas sobre os desafios da reciclagem de eletrônicos no Brasil 

A produção e o consumo desenfreado de novas tecnologias podem ser apontadas como as grandes contribuintes para o descarte inadequado de aparelhos eletrônicos. Segundo relatório do World Economic Forum em parceria com a Plataforma para Aceleração da Economia Circula (PACE), no ano de 2018, foram geradas 50,5 milhões de toneladas de lixo eletrônico ao redor do mundo. Como se não bastasse, a taxa de reciclagem desses resíduos adicionou ainda mais preocupação ao problema, já que apenas 20% deles foram devidamente reciclados. A ONU ainda estimou que, caso essa tendência se mantenha, a humanidade pode produzir até 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico até 2050. 

Se em 2018 os dados sobre consumo consciente e descarte adequado de eletrônicos já eram preocupantes, após 2020 a situação se tornou ainda pior com o despertar da pandemia global da Covid-19. Por conta de suas medidas de isolamento social, esse período tornou ainda maior a dependência da população em relação aos dispositivos eletrônicos, já que eles eram alternativas viáveis para trabalhar, se comunicar e divertir. 

dados sobre o consumo de eletrônicos no Brasil

Em 2021, um ano após o início da pandemia, um relatório da Criteo revelou um crescimento estratosférico nas vendas online de eletrônicos no Brasil: no geral, cerca de 600%. Em categorias mais específicas, a compra de laptops aumentou 666%, enquanto a de tablets cresceu 492%. Além disso, videogames e televisores registraram aumentos de vendas de 412% e 248%, respectivamente. 

No entanto, muitos consumidores acabam armazenando esses dispositivos eletrônicos em casa até o momento em que são descartados no lixo comum ou doados para terceiros. E é aí que mora o perigo: esses dispositivos precisam de um descarte adequado, pois seus componentes contêm substâncias altamente tóxicas para a natureza, capazes de gerar desequilíbrios ambientais significativos. 

Por que é importante fazer a reciclagem de eletrônicos?

Por que é importante fazer a reciclagem de eletrônicos

Como falamos, quando realizado de maneira equivocada, o descarte do lixo eletrônico pode trazer riscos sérios riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Por outro lado, quando a reciclagem de eletrônicos é feita corretamente, os impactos positivos são diversos. Dentre eles, podemos citar: 

1. Recuperação de metais valiosos 

A disposição de metais como o ouro, a prata e cobre na natureza não é infinita. Esses recursos podem acabar a qualquer momento e, assim, gerar problemas incalculáveis para a produção de determinados produtos e desestruturar muitos pilares econômicos. Entretanto, a reciclagem de eletrônicos surge como uma luz no enfrentamento desse problema.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo StEP (Solving the E-waste Problem), uma organização da Universidade das Nações Unidas (UNU), a reciclagem de uma tonelada de celulares antigos pode resultar na obtenção de até 3,5 kg de prata, 130 kg de cobre e 340 gramas de ouro. 

2. Geração de empregos e movimentação econômica 

A reciclagem de eletrônicos é um processo complexo, que requer profissionais qualificados em várias etapas específicas. Desde o transporte e a coleta dos materiais até a finalização dos produtos, é necessário contar com mão de obra especializada e capacitada. Sendo assim, à medida que a demanda por reciclagem cresce, mais oportunidades de emprego são criadas e cria-se mais movimento de renda no sistema econômico. 

Além disso, a indústria de reciclagem de e-lixo contribui diretamente para o crescimento econômico sustentável. Isso porque o material reciclado pode ser reutilizado para diversos fins e projetos sem demandar a extração ou exploração de recursos naturais, além de facilitar e agilizar os processos industriais a partir das matérias-primas já refinadas. Essa é a premissa do sistema de logística reversa, incorporado pela maioria dos fabricantes de eletroeletrônicos. Esse sistema nada mais é que um conjunto de atividades que visa recolher, transportar e dar destino adequado aos produtos e materiais descartados pela sociedade, para serem reutilizados, reciclados ou descartados de maneira segura, sem impactos negativos para o meio-ambiente. 

3. Economia de energia 

Segundo dados divulgados pela Fundação Ellen MacArthur, cerca de 75% de toda a energia gasta na indústria é voltada apenas na extração e refino de matéria-prima. Logo, não há dúvidas de que o reaproveitamento de matérias-primas já refinadas é um processo muito mais econômico do ponto de vista energético e financeiro. Sem mencionar que esse procedimento é uma alternativa que auxilia, ainda, na preservação dos recursos naturais e energéticos do planeta. 

4. Proteção de dados pessoais 

Mesmo quando um aparelho eletrônico não apresente nenhuma possibilidade de uso, é preciso tomar cuidado na hora de fazer o seu descarte. Isso porque, mesmo em aparelhos aparentemente inutilizáveis, ainda existe o risco de que pessoas estranhas acessem seus dados, tendo em vista que existem diversas formas de recuperação de arquivos e reaproveitamento de peças específicas atualmente. Por isso, a forma mais segura de

descartar eletrônicos é por meio de sistemas oficiais de logística reversa, que apresentam altos níveis de homologação e seguem fielmente as normas de segurança e privacidade. 

5. Redução da poluição da atmosfera 

Justamente por possibilitar a redução de procedimentos para a extração e exploração de matérias-primas, o sistema de logística reversa do lixo eletrônico contribui diretamente para a diminuição na emissão de gases CO₂ na atmosfera por parte das indústrias. 

6. Conservação da água 

Como citado, alguns eletroeletrônicos como pilhas e baterias podem ter metais pesados em sua composição. Esses elementos, quando descartados incorretamente, podem contaminar o solo e, consequentemente, os lençóis freáticos e as águas do planeta. 

7. Alívio dos aterros sanitários 

De acordo com um relatório de 2019 da ONU, o Brasil produz em média 1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico todos os anos. Todo esse lixo é levado para aterros sanitários, o que além de superlotar esses locais, contribui para a diminuição de sua vida útil, contamina os outros materiais e impossibilita o reaproveitamento de diversos recursos. 

8. Cumprimento de regulamentações ambientais 

Muitos países possuem leis e regulamentos específicos para o descarte e o reaproveitamento adequado de eletrônicos, visando proteger o meio ambiente e movimentar a economia. 

No Brasil, o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos e seus Componentes, de 2019, complementa a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Esse acordo estabelece metas de reciclagem para fabricantes, distribuidores e importadores de produtos eletroeletrônicos, buscando uma gestão sustentável desses resíduos. Uma das iniciativas previstas é a implantação de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) em mais de 400 municípios brasileiros até 2025, proporcionando locais acessíveis para que mais pessoas possam descartar seus equipamentos sem uso adequadamente. 

Como é realizado o processo de reciclagem do lixo eletrônico? 

Como é realizado o processo de reciclagem do lixo eletrônico

O processo de reciclagem de eletrônicos começa nos pontos de descarte e coleta específicos para esse tipo de material. No Brasil, esses locais são geralmente encontrados em estabelecimentos comerciais, como shoppings e supermercados. Os comerciantes desses centros recebem estes equipamentos e os entregam aos fabricantes e importadores, responsáveis por assegurar o descarte adequado ou a reciclagem desses materiais. 

Quando chegam nas empresas e cooperativas que fazem o trabalho de reciclagem, os resíduos são separados para o processo de triagem. Nele, os equipamentos são divididos em categorias — eletrodomésticos, eletroeletrônicos, informática e telefonia. É na triagem que também ocorre a separação dos aparelhos descartados ainda em condições de uso e que podem ser doados. 

Em seguida, é feita a desmontagem dos aparelhos e a separação de seus materiais em categorias específicas, como plástico, vidro e metal. Depois, são encaminhados para o processo de trituração, que nem sempre é realizado por todas as empresas e em todos os resíduos. 

Por fim, a última etapa do processo de reciclagem é a comercialização. As empresas interessadas compram os materiais para reutilizá-los. 

É importante ressaltar que, apesar de ser um processo similar na maioria das empresas, nem sempre a reciclagem será exatamente igual. Por exemplo, algumas cooperativas são específicas para o descarte de baterias e placas de metal, e por isso não se comprometem com a triagem e a trituração de outros materiais desses aparelhos. Além disso, existem procedimentos físico e químicos embutidos em alguns sistemas de reciclagem, o que pode variar conforme a complexidade do material descartado e a aplicabilidade final daquele resíduo. 

Como fazer o descarte correto do lixo eletrônico? 

Como fazer o descarte correto do lixo eletrônico

Antes de fazer a limpa na sua gaveta de eletrônicos esquecidos e inutilizáveis, é importante se atentar às normas de descarte desses produtos, que geralmente indicadas pelo próprio fabricante. Muitos deles, inclusive, apresentam pontos de coleta do lixo eletrônico, medida prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) e regulamentada pelo Decreto Federal 10.240/2020, que contempla os princípios da logística reversa para a reciclagem de lixo eletrônico. 

Para se informar sobre esses pontos específicos de coleta de cada empresa, basta entrar em contato com a fabricante do dispositivo para saber mais detalhes a respeito do sistema de logística reversa. Dessa forma, você garante que o material será reciclado ou eliminado corretamente. 

Caso não haja nenhum suporte do fabricante para a realização do descarte correto do produto, é necessário fazer uma busca por pontos de descarte e coleta na região. Atualmente, estima-se que o Brasil tem mais de 1,7 mil Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) para pilhas e baterias, então, é muito provável que você encontre algum PEV pertinho da sua casa. 

Vale a pena fazer a reciclagem de eletrônicos? 

Como você pode ver, o descarte correto e a reciclagem de eletrônicos são procedimentos relativamente simples, que não exigem muito dos cidadãos, mas que trazem inúmeros impactos positivos para o meio ambiente, a sociedade e a economia. Apesar de enfrentar diversos desafios nesse sentido, o Brasil tem caminhado gradativamente em direção a práticas mais sustentáveis e ao consumo consciente de produtos eletroeletrônicos.

Agora, que tal dar uma olhadinha naquela gaveta cheia de pilhas, cabos velhos e fones de ouvido quebrados? Temos certeza de que muitos materiais por aí só estão esperando a chance de serem descartados corretamente e voltarem a ter utilidade!