Se pudéssemos voltar alguns séculos no passado e perguntar a uma pessoa como ela imaginava o setor de transporte nos dias de hoje, a resposta certamente envolveria recursos revolucionários, como carros voadores e sistemas de mobilidade extremamente avançados. Mas, como bem sabemos, mesmo com seus avanços significativos, a indústria automotiva da atualidade ainda enfrenta vários desafios na busca por soluções inovadoras e sustentáveis de locomoção.

De acordo com o Relatório da 24ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24) de 2018, o setor de transporte é responsável por aproximadamente 14% das emissões globais de gases do efeito estufa. Em meio a urgência por medidas que ajudem a reduzir e eliminar essas substâncias nocivas do nosso ecossistema, a transição de modalidades de veículo tem sido apontada como uma das inúmeras alternativas que a humanidade deve adotar para brecar as mudanças climáticas e catástrofes ambientais futuras.

Nesse sentido, surge o transporte elétrico, caracterizado por veículos movidos a baterias elétricas que armazenam a energia necessária para o funcionamento do motor. Essa modalidade tem sido apontada como uma das principais alternativas ao uso de meios de transporte movidos a combustíveis fósseis, como a gasolina ou o diesel.

Neste artigo, exploraremos os avanços tecnológicos, os benefícios ambientais e as tendências do transporte elétrico, impulsionando a transição para uma mobilidade mais limpa e sustentável.

Tipos de transporte elétrico

Tipos de transporte elétrico

Por muito tempo, os veículos elétricos foram considerados o transporte do futuro. Mas, ao contrário do que muitos pensam, eles não são uma inovação tecnológica recente. Na verdade, essa modalidade de transporte surgiu em meados do século XIX, nos Estados Unidos, quando os estudos sobre o desenvolvimento de baterias estavam a todo o vapor. Entretanto, a partir do século XX, os veículos elétricos sofreram uma grande queda, motivada principalmente pelo sistema de produção fordista, as descobertas de petróleo e o crescimento desenfreado das rodovias do país que, por sua vez, exercia forte influência no setor econômico e energético mundial.

Os veículos elétricos só voltaram a ser uma pauta de destaque na década de 1960, quando as preocupações da opinião pública acerca do aquecimento global se tornavam cada vez mais fortes. Com o passar dos anos, as assembléias e comitês de enfrentamento aos problemas ambientais começaram a estabelecer medidas para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, voltando o olhar para alternativas de transporte que fossem menos nocivas à natureza. 

Com isso, até a década de 1990, montadoras de diversos países investiram em novos projetos de veículos movidos a eletricidade, adicionando recursos e alternativas cada vez mais modernas à modalidade. Começando pelos transportes elétricos mais em conta, os mais populares são:

Bicicletas elétricas

Bicicletas elétricas

Também conhecidas como e-bikes, as bicicletas elétricas se tornaram uma verdadeira tendência de mobilidade urbana. Elas são diferentes das motocicletas pois possuem um motor elétrico que auxilia o ciclista durante o pedal. Algumas cidades brasileiras já têm ponto de carregamento elétrico em ciclovias, além de empresas de aluguel de bicicletas que permitem o uso desse veículo por um tempo determinado.

Veja modelos de bicicletas elétricas disponíveis no Brasil

Patinetes elétricos (veículos de mobilidade pessoal elétricos)

Isso inclui uma variedade de dispositivos, como patinetes elétricos, hoverboards e monociclos elétricos. Esses dispositivos compactos e ágeis são populares para deslocamentos curtos em áreas urbanas.

Veja modelos de patinetes elétricos disponíveis no Brasil

Carros elétricos (EVs ou VEs)

Carros elétricos (EVs ou VEs)
Tesla Model 3. Foto: Divulgação.

A modalidade mais popular e recorde de vendas, se destaca pela variedade de modelos disponíveis no mercado, desde compactos até SUVs e veículos de luxo. Além disso, existe uma diversificação de sistemas, que atendem às inúmeras demandas dos passageiros.

Ônibus elétricos

Ônibus elétricos

Diversas cidades do Brasil e do mundo já estão implementando o ônibus elétrico para reduzir a emissão de gases de efeito estufa por meio do transporte público, como é o caso de São Paulo e Curitiba. A primeira cidade no mundo a adotar o sistema de transporte coletivo totalmente elétrico foi Shenzhen, na China. A transição para a modalidade elétrica começou em 2009 e ajudou a reduzir as emissões de CO2 anuais dos ônibus em 48%.

Caminhões elétricos

Caminhões elétricos

De acordo com a última versão da Análise das emissões de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil, desenvolvida pelo Observatório do Clima em parceria com o Instituto de Energia e Meio Ambiente, os caminhões são os veículos que mais emitem gases de efeito estufa. Eles  representam cerca de 42% do total emitido em 2022. Com isso, os caminhões elétricos estão ganhando destaque como uma alternativa mais limpa aos caminhões movidos a diesel, mas ainda existem desafios acerca da autonomia, da logística e da distribuição do transporte de carga rodoviário que impedem sua implementação total.

Motocicletas elétricas

Motocicletas elétricas
Moto Elétrica SR 2022, da marca ZERO.

Uma opção mais ecológica e silenciosa em comparação com as motocicletas a combustão interna, as motocicletas elétricas estão começando a ganhar notoriedade, principalmente entre os motociclistas que fazem viagens urbanas de curta distância.

Quais são os benefícios do transporte elétrico?

Quais são os benefícios do transporte elétrico

Existem muitos benefícios associados ao uso do transporte elétrico. Os principais deles são:

Redução de emissões de gases de efeito estufa

O transporte elétrico contribui para a redução das emissões de gases poluentes e de efeito estufa, o que ajuda a reduzir e barrar os agentes que colaboram para as mudanças climáticas. Os veículos elétricos não possuem escapamento e alguns modelos podem ser alimentados por eletricidade proveniente de fontes renováveis, como energia solar ou eólica, aumentando ainda mais a sustentabilidade desse tipo de transporte.

Melhoria da qualidade do ar

Os veículos elétricos não emitem poluentes do escapamento, como óxidos de nitrogênio (NOx) e partículas finas, que são prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. A adoção em larga escala do transporte elétrico pode contribuir para a redução da poluição do ar em áreas urbanas e melhorar a qualidade do ar que respiramos.

Mais eficiência

Outros benefícios relacionados ao uso de transporte elétrico tem relação com os custos dessa modalidade. A eletricidade é bem mais barata que os combustíveis fósseis. Com isso, veículos elétricos têm mais eficiência, pois são capazes de reduzir o custo por quilômetro rodado para cerca de 1/3 do valor que seria gasto com um carro movido a gasolina.

Incentivos fiscais

A mobilidade elétrica tem sido cada vez mais estimulada ao redor do mundo, já que auxilia na preservação do meio-ambiente e da reserva de recursos naturais utilizados para a produção de energia. Nesse sentido, a mobilidade elétrica tem sido alvo de incentivos fiscais importantes, que visam fortalecer o desenvolvimento de tecnologias e a comercialização de veículos elétricos a partir de descontos ou isenção de IPVA para automóveis dessa modalidade. 

Veículos elétricos e híbridos: entenda os sistemas

Um relatório da consultora EV-Volumes aponta que, em 2022, houve um recorde de vendas de carros elétricos (EV) ao redor do mundo. O levantamento calcula cerca de 10 milhões de automóveis movidos a eletricidade vendidos, resultando numa alta de 55% em relação aos modelos emplacados no ano anterior.

Esse crescimento contínuo da venda de veículos elétricos mostra que as opções disponíveis no mercado estão cada vez mais próximas de atender às demandas da sociedade, o que pode ser explicado pela variedade de sistemas que as montadoras têm desenvolvido ao longo dos anos. Atualmente, existem três sistemas principais de veículos elétricos:

Veículos totalmente elétricos

Veículos totalmente elétricos
Tesla Model 3 é um dos carros totalmente elétricos mais cobiçados.

Conhecidos também por veículos elétricos a bateria (BEVs), sua locomoção acontece exclusivamente por motores elétricos, ou seja, as baterias recarregáveis que armazenam a energia necessária para impulsionar o veículo. Por não possuírem um motor a combustão interna, os veículos desse tipo não emitem gases prejudiciais ao meio-ambiente.

Veículos híbridos

Veículos híbridos
Toyota Prius é o carro híbrido mais vendido da história.

Essa categoria de veículos combina um motor a combustão interna com um elétrico, num sistema de motorização que usa a bateria para apoiar o motor a combustão, o que ajuda a reduzir o consumo de combustível e as emissões de poluentes. O motor a combustão geralmente é usado quando acaba a bateria do motor elétrico.

Veículos híbridos plug-in (PHEVs)

Veículos híbridos plug-in (PHEVs)
Mitsubishi Outlander PHEV é um dos modelos mais populares entre os híbridos Plugin.

São uma variação dos veículos híbridos, que podem ser conectados a uma fonte de energia externa para recarregar sua bateria. Geralmente, esses veículos têm autonomia elétrica maior em comparação com os híbridos convencionais, permitindo que sejam conduzidos por uma distância significativa usando apenas a energia elétrica armazenada. Quando a carga da bateria é esgotada, o veículo muda para o modo híbrido, usando o motor a combustão interna em conjunto com o motor elétrico.

Como é feita a recarga de um veículo elétrico? Quanto tempo demora?

Como é feita a recarga de um veículo elétrico_ Quanto tempo demora
Renaul Zoe durante carregamento das baterias.

Assim como os celulares e computadores portáteis, a recarga de um veículo elétrico pode ser realizada conectando o veículo a uma fonte de energia elétrica, ou seja, uma tomada doméstica ou uma estação de recarga pública. O tempo e a velocidade da recarga vão depender do tipo de fonte de energia e do modelo do veículo. Por exemplo, os carros elétricos geralmente demoram mais para carregar do que motos elétricas ou bicicletas elétricas. Outro fator que influencia no tempo e velocidade de carregamento é, justamente, o carregador – os mais rápidos demoram de 30 minutos a 1 hora, enquanto outros já levam de 6 a 8 horas.

Existem alguns modelos de transporte elétrico que são carregados por indução, um exemplo são os carros elétricos da BMW, que ainda não chegaram ao Brasil. Outras montadoras já sinalizam que vão incrementar ainda mais seus próximos modelos, a partir da instalação de um sistema de carregamento através da energia solar.

Qual é a autonomia de um veículo elétrico?

Qual é a autonomia de um veículo elétrico

Antigamente, a autonomia dos veículos elétricos era um grande impedimento para a sua popularização. Isso porque os carros mais populares dessa modalidade não alcançavam grandes marcas de eficiência, o que assustava os motoristas que tinham medo de ficar pelo caminho.

Hoje em dia, pode-se dizer que os veículos elétricos tiveram uma melhora significativa no que tange à sua autonomia, que além de ter aumentado, passou a sofrer menos influências de outros fatores, como a temperatura, o uso de recursos do veículo e sua velocidade. 

No geral, carros elétricos modernos registram uma autonomia de até 600 km com uma única carga, enquanto motos elétricas e bicicletas elétricas têm autonomia menor, variando entre 40 e 100 km com uma única carga, dependendo do modelo e do uso.

Algumas montadoras, reconhecendo o problema da autonomia, estão trabalhando no desenvolvimento de baterias mais eficientes, de outros materiais além de íons de lítio, que sejam capazes de armazenar e distribuir a energia de forma proveitosa. É o caso da Mercedes-Benz, que na última feira de tecnologias de Las Vegas apresentou o AVTR, carro elétrico com bateria de grafeno.

Tendências do transporte elétrico no Brasil e no mundo

Tendências do transporte elétrico no Brasil e no mundo
Projeto VEM DF utiliza veículos elétricos Renault Twizy ultracompacto.

Com o passar dos anos, o desenvolvimento econômico e urbano de grandes centros nacionais levou à busca por soluções sustentáveis de mobilidade. Por isso, pode-se considerar que o transporte elétrico tem um futuro promissor. De acordo com a última pesquisa anual Long-Term Electric Vehicle Outlook (EVO), até 2026, a frota de veículos elétricos de passageiros terá mais de 100 milhões de modelos circulando no mundo. Além disso, o estudo também aponta que metade do sistema de transporte público mundial será elétrico até 2032. 

Uma das cidades que já sinaliza a transição para o uso de energia limpa na mobilidade é Bogotá, a capital colombiana, que tem a maior rede de ônibus elétricos do mundo fora da China: cerca de 7.782 veículos de uso público movidos a energia elétrica.

Mesmo que ainda seja considerada uma novidade no Brasil, a mobilidade elétrica tem ganhado cada vez mais espaço no país: segundo a ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos), de janeiro a novembro de 2022, foram vendidos mais de 43 mil carros com algum tipo de eletrificação, 25% a mais do que em 2021. Os principais carros movidos a eletricidade vendidos no Brasil são: Renault Zoe (R$ 147.990), Nissan Leaf (R$ 195 mil) e Audi e-tron (R$ 459.990).

Além disso, algumas cidades do país já estão implementando iniciativas importantes, como postos de recarga para meios de transporte elétricos e sistemas de compartilhamento de veículos. Em Brasília, por exemplo, o projeto Vem DF possibilita que servidores públicos locais utilizem carros elétricos compartilhados para fazer pequenas deslocações urbanas.

Já na capital paulista, um dos maiores aliados no combate à poluição gerada pelos combustíveis fósseis é o metrô, que é movido por energia elétrica. Segundo a Prefeitura de São Paulo, em 2019, esse tipo de transporte evitou o lançamento de 855 mil toneladas de gases na atmosfera. Além disso, essa modalidade também trouxe benefícios econômicos, já que deixou de queimar 469 milhões de litros durante um ano e R$ 1,6 bilhão foram poupados.