Nascido em Paris, em 7 de junho de 1848, Paul Gauguin foi um pintor franco-espanhol-peruano marcou o período do pós-impressionismo e se tornou um dos grandes nomes da pintura mundial. Boa parte disso veio de sua herança genética, ou “o índio e o sensível”, como ele mesmo chamava.

Conheça mais sobre a vida e obra de Paul Gauguin, pintor francês pós-impressionista neste artigo.

O que você vai encontrar neste post:

Quem foi Paul Gauguin?

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Paul Gauguin, 1880.

Eugène-Henri-Paul Gauguin foi um pintor francês do período pós-impressionista. Tinha ascendência peruana e espanhola, vivendo 7 anos de sua infância no Peru juntamente com a mãe, Aline, e a avó, a escritora e feminista Flora Tristan Y Moscoso.

Nascimento: Paris, 7 de junho de 1848.

Falecimento: Ilhas Marquesas, 8 de maio de 1903 (aos 54 anos).

Vida de Paul Gauguin e sua influência mestiça

Um homem analisava seu reflexo num dos espelhos do pequeno restaurante La Côte d’Or, reduto dos simbolistas, numa noite de 1889. Era Paul Gauguin. Passados 16 anos da morte do pintor, o escritor e teórico simbolista Charles Morice lembrava vividamente desse primeiro encontro com o artista, de quem se tornaria amigo.

“Notei um rosto novo no grupo dos meus amigos, um rosto grande, ossudo e maciço, de testa estreita, de nariz arqueado de nascença, mas como se quebrado, com boca de lábios estreitos e sem inflexão, com as pálpebras pesadas, que se erguiam preguiçosamente sobre os olhos igualmente preguiçosos, cujas pupilas azuladas viajavam em suas órbitas da direita à esquerda sem que o tronco e a cabeça fizessem o menor movimento”.

Esse semblante insólito e ambíguo, marcado pela origem mestiça (francesa-espanhola-peruana) e forjado na natureza de sua índole de “sensível” e de “índio” pode ser visto nos autorretratos de Gauguin.

Quase a corroborar a teoria positivista de Taine, o rosto de Gauguin, em seus quadros, parece carregar traços da herança familiar e dos ambientes onde cresceu. O pintor acreditava que os quatro anos passados com a mãe em Lima, no Peru, ainda criança, haviam-no marcado profundamente: os enfermeiros indígenas, as cores vivas do país, a familiaridade com as cerâmicas pré-colombianas colecionadas por sua mãe, Aline.

A mãe e a avó materna impressionavam o garoto. A mãe foi carinhosamente lembrada em Escritos de um Selvagem e depois pintada, numa interpretação de 1890, com traços exóticos improváveis. A avó Flora Tristan Y Moscoso (1803-1844), filha de um nobre peruano, alimentava a mitologia familiar. Era escritora e jornalista, amiga de George Sand e Pierre-Paul Proudhon, militava em defesa dos indígenas e, ao seu modo, foi uma feminista avant-garde. Desfez o casamento com o xilogravurista André Chazal, quando isso era um escândalo, porque ele era ciumento e intolerante.

O temperamento familiar e a peregrinação infantil podem justificar a sensibilidade e a conduta não linear do pintor. A primeira a ter consciência disso foi a dinamarquesa Mette Gad, a mulher dele. Mette experimentou a dicotomia entre o Gauguin corretor da bolsa de valores e o Gauguin pintor, vivenciou o conflito entre o artista que ajudou a mudar a face da pintura e o homem oprimido pela necessidade de sustentar a família – eles tiveram cinco filhos -, o eterno cabo de guerra entre a vocação artística e a responsabilidade social.

A pintura já havia se tornado a principal ocupação de Gauguin, quando o casal resolveu ir morar em Copenhague, cidade natal de Mette. A mudança foi desastrosa e marcou a separação definitiva do casal. Gauguin passou a manter um diálogo epistolar constante com Mette, marcado pelas mágoas mútuas e questões relacionadas à indiferença e ao egoísmo do pintor. Como notou o escritor simbolista Auguste Strindberg, no sofrimento Gauguin parecia fortalecer sua arte e suas ideias e tirar proveito do desconforto gerado nos outros. A falta de raízes devia justificar a seus olhos essa índole dividida e incentivar a propensão a uma vida errante exaltada na sua obra, em especial no olhar enigmático dos retratos e autorretratos, na escolha da composição e na iconografia.

Gauguin: o Índio e o Sensível

Do primeiro autorretrato em 1877, de olhar e estilo ainda incertos e imaturos, aos célebres, que datam dos anos de 1888 e 1889, Gauguin amadureceu uma concentração metafórica, que o levou a construir uma máscara. Ela simbolizava o não-pertencimento ao meio burguês europeu e ao mesmo tempo fazia uma referência idólatra e formal ao Japão e à escultura primitiva e selvagem. A partir do célebre autorretrato Os Miseráveis (1888), ele se lançou na prática do “travestimento” facial.

Daí, Gauguin se pintaria no papel de Jean Valjean, “o bandido malvestido, de nobreza e doçura interior”, o herói literário favorito de Vincent Van Gogh, a quem o quadro foi destinado, em Arles. O olhar, flamejante e esquivo, de 3/4 em assimetria compositiva, a exemplo das gravuras japonesas, marca na força da máscara abstrata (como descreveu o amigo Caude-Émile Schuffenecker, “o bom Schuff”, como era chamado) a natureza revolucionária do impressionismo.

No bilhete que acompanhou esse autorretrato, Gauguin se reconheceu bnadido numa sociedade que o impediu de renovar o impressionismo e o forçou a um exílio voluntário na Bretanha. Ali, no verão de 1888, ao lado de outros jovens pintores, Gauguin forjou um programa artístico que o guiou na execução de Os Miseráveis: a construção das linhas e das cores, o contorno dos olhos e do nariz, numa síntese orgânica da cerâmica pré-colombiana ou medieval – tudo organizado sobre “um tapete persa”. Os Miseráveis se mostra revelador da índole de Gauguin, que tinha a ambição de sintetizar nesse autorretrato a imagem universal do artista contemporâneo: “Então, aqui vai a minha imagem pessoal, mas também um retrato de todos nós, pobres vítimas dessa sociedade, de quem nos vingamos fazendo o bem”, ele escreveu a Van Gogh.

Nos autorretratos, aflora sempre a complexa individualidade que Gauguin assumiu na famosa advertência à mulher: “Devo lembrar a você que existem duas naturezas em mim: a índia e a sensível. A sensível desaparece de forma que a índia possa proceder com firmeza”. A índole índia é o primitivo, aquela que se livra das minúcias da composição e da simples imitação da natureza e reconhece um valor simbólico nas linhas como indicadoras da estrutura primária da realidade. Nas linhas primitivas, a natureza “sensível” é latente.

Alguns meses depois de ter concluído Os Miseráveis, quase no fim da conturbada coexistência com Van Gogh na Casa Amarela, em Arles, Gauguin delineou na máscara do amigo pintor um espelho de si mesmo: também em 3/4, com economia de traços e cores emotivas. Prevalecem os traços primitivos, quese animalescos, no rosto do holandês, como a demonstrar a dificuldade da convivência entre ambos. O olhar fixo no vazio, “cansado e saturado”, como o próprio retratado recordou tempos depois, foi interpretado como uma afirmação de Gauguin contra o método de scimmiottare (imitar) a realidade.

Viagem ao Taiti

Gauguin foi viver no Taiti, em 1891. Essa mudança significaria para ele e para a sua arte a realização de uma vida a milhares de quilômetros distante de qualquer civilização ocidental. Segundo suas próprias palavras: “Eu escapei de tudo que é artificial e convencional. Aqui, eu entrei no processo da verdade pura para me tornar um indivíduo unificado com a natureza”.

Dessa experiência, que terminou em 1893, resultou o livro Noa Noa: Viagem ao Taiti. O livro e a história de Gauguin também ganharam vida no filme Gauguin: viagem ao Taiti (2018), do diretor Edouard Deluc e estrelado por Vincent Cassel, Tuheï Adams, Malik Zidi.

Trailer do filme de Édouard Deluc.

Gauguin no Brasil

Isso mesmo, Gauguin visitou o Brasil. Em 1855, quando sua mãe resolveu retornar à França, a família se estabeleceu em Orleans, próximo a Paris. Ao completar 17 anos, alistou-se na marinha francesa e trabalhou por 3 meses como cadete num navio mercante que desembarcou em Salvador e no Rio de Janeiro.

Pinturas de Paul Gauguin

As pinturas de Gauguin têm um estilo bastante marcado, graças às técnicas desenvolvidas pelo pintor e conhecidas como “sintetismo” e “cloisonnisme” (ou alveolismo). Nessas técnicas, a natureza é sempre representada de maneira simbólica através de formas simplificadas, uma variedade de cores vivas chapadas e contornadas por linhas negras – grande influência das gravuras japonesas.

Principais características da obra de Gauguin:

  • Natureza utilizada de maneira alegórica e sugestiva;
  • Formas dimensionais e estilizadas;
  • Contorno preto das formas postas em tela.

Conheça as principais pinturas de Paul Gauguin abaixo!

Vincent van Gogh pinta girassóis, 1888

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Wikimedia Commons.

Durante algum tempo, Paul Gauguin e Vincent Van Gogh foram amigos. Apesar de ter sido uma amizade conturbada, passando um tempo juntos na Casa Amarela e discordando em quase todos os seus pontos de vista, ambos continuaram a amizade de maneira epistolar nutrida especialmente pelo interesse na criação artística.

Onde a obra está exposta?

Museu Van Gogh. O Museu Van Gogh fica em Amsterdã, nos Países Baixos. Seu acervo é composto por trabalhos do pintor Vincent van Gogh e de seus contemporâneos. O museu contém a maior coleção de pinturas de Vincent van Gogh no mundo.

Café em Arles, 1888

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Wikimedia Commons.

Essa pintura é resultado de um tema estudado juntamente com Van Gogh. Os dois frequentemente escolhiam uma mesma cena ou um mesmo tema de davam vida à tela cada uma a sua maneira, em seu estilo.

Uma curiosidade é que Gauguin chegou a comentar que essa obra não lhe agradava muito, pois havia lhe dado cores escuras e a decoração do lugar retratado não era do seu feitio.

Onde a obra está exposta?

Museu Estatal Pushkin de Belas Artes. O Museu Estatal Pushkin de Belas Artes é o maior museu de Moscou, na Rússia, dedicado à arte europeia, e um dos maiores do mundo neste gênero.

Jacó e o Anjo, 1888

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Wikimedia Commons.

Como já deixa claro o título, a obra retrata a volta de Jacó à casa depois de anos de solidão e exílio motivados pelos conflitos com o irmão Esaú. Segundo conta a Bíblia, Jacó luta com um anjo no caminho de volta durante uma noite inteira. No quadro, essa luta é materializada na mente das mulheres enquanto participam de um sermão.

Onde a obra está exposta?

Galeria Nacional da Escócia. A Galeria Nacional da Escócia, sediada em Edimburgo, é uma galeria de arte nacional da Escócia. A galeria possui a maior coleção de arte da Escócia.

Mulheres de Taiti na Praia, 1891

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Wikimedia Commons.

Esta obra faz parte do período artístico em que Gauguin tentava pintar o máximo de elementos da natureza. A cena em si é um pouco diferente daquelas que o artista costumava retratar, mas a técnica e os traços são do estilo do pintor.

Onde a obra está exposta?

Museu de Orsay. O Museu de Orsay fica na cidade de Paris, na França. Situa-se na margem esquerda do rio Sena no VII arrondissement. As coleções do museu apresentam obras da arte ocidental do período compreendido entre 1848 e 1914.

O Filho de Deus nascido, 1896

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Wikimedia Commons.

Este quadro é um exemplo clássico da mistura de um tema ocidental com uma cena primitiva da vida haitiana. O pintor, que passou um tempo no Taiti, utilizou nativos para retratar uma narrativa cristã.

Onde a obra está exposta?

Neue Pinakothek. A Neue Pinakothek fica em Munique, Alemanha. Tem coleções de arte europeia nos séculos XVIII e XIX.

Vairumati, 1896

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Wikimedia Commons.

Esta obra é a junção dos elementos favoritos do pintor em suas obras: mulheres e figuras misteriosas que assumem outros significados na composição geral da tela. A ave nativa taitiana atacando um lagarto, no canto inferior esquerdo, é um exemplo.

Onde a obra está exposta?

Museu de Orsay. O Museu de Orsay fica na cidade de Paris, na França. Situa-se na margem esquerda do rio Sena no VII arrondissement. As coleções do museu apresentam obras da arte ocidental do período compreendido entre 1848 e 1914.

De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?, 1897

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Wikimedia Commons.

Apesar de ter quatro metros, a tela foi pintada por Gauguin em apenas um mês. Como numa leitura de um mangá, da direita para a esquerda é contada a evolução da vida humana. Ela parte da criança, passa pelo adulto – em contato com a árvore, símbolo do conhecimento – e uma velha anciã.

Onde a obra está exposta?

Museu de Belas Artes de Boston. O Museu de Belas Artes de Boston em Boston, Massachusetts, é um dos maiores museus dos Estados Unidos e guarda a segunda maior coleção permanente de obras de arte na América.

Mais pinturas de Paul Gauguin:

Nu de Mulher que Costura [Suzanne], 1880

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Wikimedia Commons.

Natureza-Morta com Perfil de Charles Leval, 1886

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Wikimedia Commons.

Dança das Quatro Bretãs, 1886

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Wikimedia Commons.

As Lavadeiras de Arles, 1888

Paul Gauguin Washerwomen at the Roubine du Roi. Arles
Wikimedia Commons.

Autorretrato Os Miseráveis, 1888

Paul Gauguin Self Portrait Les Miserables
Wikimedia Commons.

Fazenda nos Arredores de Arles, 1888

Paul Gauguin Landscape Farmhouse in Arles
Wikimedia Commons.

Ave Maria, 1891

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Wikimedia Commons.

Taitiana com a Manga, 1892

Paul Gauguin Woman with a Mango
Wikimedia Commons.

Obras de Paul Gauguin no Brasil

No Brasil, Paul Gauguin pode ser visto no Museu de Arte de São Paulo (Masp) em apenas 2 obras em exposição permanente, Autorretrato [Perto do Gólgota] e Pobre Pescador.

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Autorretrato [Perto do Gólgota], 1896. Óleo sobre tela. Wikimedia Commons.

MASP

Serviço:

TER: 10H-20H (BILHETERIA ABERTA ATÉ 19H30)
QUA-DOM: 10H-18H (BILHETERIA ABERTA ATÉ 17H30)
SEG: FECHADO

Compra de ingressos.